Relevância para os objectivos do Programa Ciência e Sociedade
Infelizmente, a nível escolar, a literacia científica é equacionada com o desenvolvimento de conhecimento científico. Muitos materiais de ensino – aprendizagem focam-se neste aspecto, mesmo quando promovem aplicações interessantes de ciência ou introduzem investigações e projectos intrigantes. Mas, isto não provocou um aumento do interesse dos alunos pelas aulas de ciências ou pela ciência em geral e isso é, particularmente, verdadeiro para as meninas (Osborne et al, 2003). Um objectivo deste projecto é emprestar à literacia científica um cunho mais social, enfatizando as necessidades sociais, através do desenvolvimento de materiais e recursos exemplares. Deste modo, este projecto procura ultrapassar a fosso existente entre a literatura científica sobre educação em ciência e a visão mantida por muitos professores e, mesmo, por outros elementos da comunidade científica, sobre os materiais de ensino – aprendizagem e os recursos (como por exemplo, testes).
Este projecto tem como objectivo desenvolver materiais de ensino – aprendizagem e recursos, que permitam fortalecer um ensino de ciências assente no interesse dos alunos pelas aulas de ciências e na popularidade da ciência. Para atingir esse objectivo, os materiais de ensino – aprendizagem assentam na teoria de actividade (Roth & Lee, 2003; Van Alsvoort, 2004) e, logo, nas necessidades da sociedade, sem, no entanto, diminuir as necessidades conceptuais dos alunos. Isto significa que os materiais de ensino – aprendizagem (e as abordagens de ensino) procuram encorajar um tipo de ensino da ciência centrado no aluno, nos processos de aprendizagem e orientados para a vida do dia-a-dia, que parece ser mais aceitável pelos alunos (e especialmente pelas meninas) (Zeidler, 2005). Assim, este projecto procura reunir exemplos de boas práticas e partilhá-los com diversas comunidades científicas da Europa e fora dela. Para além disso, parece cumprir os objectivos da ciência e sociedade no sentido de se desenvolver ligações estruturais entre instituições e de se desenvolver actividades centradas no diálogo entre a comunidade científica e a sociedade em geral.
Constitui, no entanto, um triste facto que os materiais de ensino – aprendizagem promotores de literacia científica e tecnológica não sejam um lugar comum nas salas de aula na Europa, de hoje. Isto assim é, em grande medida, devido aos facto dos currículos, em muitos países europeus, serem ainda dominados pela a aquisição conceptual de “grandes” ideias científicas no abstracto, e pelo facto da ciência conceptual ser considerada fundamental e, logo, dever ser ensinada antes de se considerar a ciência na sociedade. Contudo, muitos exemplos de materiais de ensino – aprendizagem existem fora das exigências impostas pelos currículos e os parceiros do projecto têm muitos desses exemplos, alguns dos quais desenvolvidos com estudantes durante a suas formação inicial para professores de ciência, ou estudantes de mestrado ou doutoramento. Para além disso, os parceiros do projecto estão envolvidos noutros projectos, cujos objectivos lhes permitiram desenvolver, com grande margem de liberdade, materiais de ensino – aprendizagem sem os constrangimentos impostos pelos currículos ou pelas avaliações externas. Muitos desses projectos foram desenvolvidos com a ajuda da indústria, procurando satisfazer as necessidades da indústria com um ensino de ciência que vai além do conteúdo e que inclui aspectos de gestão e sociais (e.g. ParIS, 2006). Ao seleccionar cuidadosamente materiais e recursos e ao modificá-los de forma a formarem um conjunto coerente, pretende-se que os professores apropriem as ideias e as implementem nas suas salas de aula, para que os materiais sejam testados, dando particular atenção às reacções dos alunos (especialmente, meninas). Esta constitui a base para uma disseminação mais ampla em cada um dos países envolvidos no projecto.
Ao valorizar os materiais de ensino – aprendizagem, em vez de projectos ou cursos, o projecto espera ser capaz de integrar os materiais, independentemente da diversidade de abordagens e ênfases, num conjunto exemplar de materiais de ensino – aprendizagem. O modelo não é uma entidade única, mas um enquadramento que identifica as melhores práticas tendo em conta filosofias, abordagens, ênfases e arranjos estruturais. Um objectivo do projecto é disseminar esses materiais, na expectativa de que estes sejam integrados, como alternativas, nos programas de ciência já existentes em cada país e que criem grande interesse nos alunos, especialmente, meninas. Isto parece estar de acordo com o objectivo de compreender e comparar a força e a fraqueza da prática de ensino de ciência e metodologias na Europa e, como consequência, diminuir a discrepância entre investigação em educação e ensino de ciência.
Referências:
Gräber, W., Neumann, A., Erdmann, T., & Schlieker, V. (2006): ParIS: A Partnership between Industry and Schools. In: Peter Nentwig, David Waddington (eds.): Context-based Learning of Science – making it relevant. Waxmann pp. 249-272
Osborne, J., Simon, S., & Collins, S. (2003). Attitudes towards science: a review of the literature and its implications. International Journal of Science Education, 25(9), 1049-1079
Roth, W.-M., & Lee, S. (2003). Science Education as/for Participation in the Community. Research in Science and Technology Education, 21(2)
Van Aalsvoort, J. (2004). Activity theory as a tool to address the problem of chemistry’s lack of relevance in secondary school chemical education IJSE 26(13) 1635-1651
Zeidler, D.L., Sadler, T.D., Simmons, M.L., & Howes, E.V. (2005). A Research Based Framework for Socio-scientific issues education, Science Education, 89(3), 357-377
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